Setor evitou pressões inflacionárias e impulsionou o PIB em 2025, mas fragilidades internas e choques externos elevam incertezas para 2026
O agronegócio brasileiro teve papel central na melhora de indicadores macroeconômicos em 2025, contribuindo para a desaceleração da inflação e para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Mesmo assim, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) advertiu, em coletiva nesta terça-feira (9), que 2026 tende a ser um ano mais desafiador e exigirá maior cautela dos produtores.
Resultados e números de 2025
Segundo a CNA, o setor foi determinante para que a inflação encerrasse 2025 em torno de 4,4%. O agronegócio registrou expansão estimada de 9,6% em 2025, com valor total de R$ 3,13 trilhões. No Valor Bruto da Produção (VBP), a projeção para 2025 é de R$ 1,49 trilhão, alta de 11,9% em relação a 2024.
A pecuária teve forte recuperação em 2025, com aumento de 14,2% no VBP impulsionado pela recuperação dos preços da bovinocultura de corte; a agricultura cresceu 10,8%, com destaque para soja e milho. As projeções da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) apontam produção total de grãos em 2025/2026 de 354,8 milhões de toneladas — alta de 0,8% —, com soja estimada em 177,6 milhões de toneladas (+3,6%) e milho em 138,8 milhões de toneladas (queda de 1,6%).
Riscos fiscais e perspectiva econômica para 2026
A CNA projeta crescimento mais moderado do setor em 2026, de 1%, com o Valor Bruto da Produção previsto em R$ 1,57 trilhão (alta de 5,1% sobre 2025). A entidade alerta que o governo terá de buscar equilíbrio fiscal por meio de maior arrecadação, o que mantém o crescimento em um ambiente de fragilidade. Entre as medidas esperadas estão maior fiscalização da Receita Federal e criação de novas bases arrecadatórias para cumprimento da meta fiscal.
O contexto fiscal mais apertado, aliado à taxa Selic elevada em 15% ao ano, reduz a folga para investimentos e aumento de crédito no campo.
Endividamento, crédito e seguro rural fragilizado
Um dos pontos de maior atenção é o endividamento do produtor. Em outubro de 2025, a inadimplência do crédito rural com taxas de mercado atingiu 11,4%, o maior patamar desde o início da série histórica em 2011 — frente a 3,54% no ano anterior. A CNA vincula esse aumento a fatores como eventos climáticos recorrentes, queda de preços de commodities, elevação dos custos de produção, falta de seguro rural e critérios de crédito mais rígidos das instituições financeiras.
O Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) cobriu apenas 2,2 milhões de hectares em 2025 — menos de 5% da área agricultável do país —, o pior desempenho desde 2007. A ausência de instrumentos de gestão de risco amplia a exposição a perdas climáticas e contribui para o agravamento do endividamento.
Cenário externo: tarifas, China e União Europeia
No comércio exterior, a CNA vê 2026 marcado por maior tensão. A política comercial dos Estados Unidos, se mantiver tarifas adicionais de 40%, pode impactar em até US$ 2,7 bilhões por ano, o equivalente a cerca de 22% das exportações agropecuárias brasileiras para aquele mercado. A entidade também monitora negociações entre Mercosul e União Europeia, os efeitos da Lei Antidesmatamento Europeia (EUDR) e eventuais salvaguardas da China sobre carne bovina — um mercado no qual o Brasil responde por cerca de metade das importações.
O que muda para o produtor e o mercado em 2026
- Projeção de queda de 4,5% na produção de carne bovina em 2026, com expectativa de preços mais altos da arroba do boi gordo e de animais de reposição.
- A necessidade de soluções estruturais: maior acesso a seguro rural, instrumentos de gestão de risco e políticas que aumentem previsibilidade e resiliência no campo.
- Risco de aperto de crédito e custos mais elevados caso a política fiscal exija aumento de arrecadação via fiscalização e novas bases tributárias.
Para a CNA, a recuperação do produtor rural dependerá da adoção de políticas que reduzam vulnerabilidades financeiras e climáticas, ampliando a previsibilidade e a capacidade de enfrentar choques internos e externos. Sem esses mecanismos, a contribuição do agro para a estabilidade macroeconômica pode ficar mais limitada em 2026.

